O sentido da arte
O
sentido da arte
Entrevista
de Nildo Viana com José Braga.
José Braga: Segundo sua definição de arte, alguns
"artistas" que jogam tinta aleatoriamente em telas fazem arte? Por
quê?
Nildo Viana: Esse é um caso específico e diferenciado. A
arte, em minha concepção, é expressão figurativa da realidade, uma determinada
forma de expressar a realidade, marcada pela figuração, o que remete ao reino
da ficção. É claro que é preciso entender que realidade engloba tudo o que
existe, inclusive os sentimentos dos indivíduos que produzem arte. Assim como é preciso entender
que não se trata de “refletir a realidade”, seja a partir da ideologia
leninista do reflexo ou qualquer outra concepção ideológica e “objetivista”.
Trata-se de “expressão”, o que significa que alguém expressa e sob forma singular.
Isso também não significa “subjetivismo”, pois quem expressa é um ser humano,
histórico e social e só assim pode ser compreendido. A singularidade remete ao seu
processo histórico de vida, que é social, constituindo a forma específica como determinado
indivíduo se insere e se relaciona socialmente no conjunto das relações sociais. A união da “expressão”
e da “realidade” significa que uma forma específica de expressão de uma
determinada realidade (seja no plano totalizante ou de um fenômeno específico,
tal como os sentimentos e outros elementos do universo psíquico daquele que
realiza tal expressão) sob a forma figurativa. A figuração é a essência da
arte, pois existem outras formas de expressar a realidade (a teoria, a
ideologia, as representações cotidianas, etc.). Jogar tinta
aleatoriamente numa tela não é produzir arte, porquanto não há figuração.
Porém, uma vez que um artista faça isso e o seu quadro seja exposto numa
galeria, então é percebida como arte por aqueles que possuem acesso ao mesmo.
Então eu diria que não se trata de arte e sim de pseudoarte. A pseudoarte se
passa por arte e é vista como arte, mas não é realmente isso, é uma falsidade
que tem aparência artística, mas não conteúdo artístico.
José Braga: A arte se julga autônoma. No seu livro A Esfera Artística - Marx, Weber, Bourdieu e
a Sociologia da Arte (Porto Alegre, Zouk, 2007) o senhor diz que isso é
ilusório. A arte não seria uma forma de manifestação da natureza humana e,
portanto, não seria sublime? Não seria a sociedade capitalista ou as sociedades
de classes que deformaria ela e lhe retirariam o seu caráter sublime? E, sendo
sublime, não seria autônoma?
Nildo Viana: A arte não é manifestação da natureza humana.
A essência humana é algo que antecede a produção artística. A produção
artística pode ser uma das formas de manifestação da natureza humana, pois
permite o desenvolvimento das potencialidades humanas, como a criatividade, mas
é uma entre outras e pode não ser assim. A produção artística pode ser alienada
e, nesse caso, não expressa a natureza humana e sim sua negação. Por
conseguinte, a arte não pode ser considerada sublime por este motivo. Sem
dúvida, a sociedade capitalista gera o processo de mercantilização da arte e
isso faz com que ela perca a possibilidade de manifestar a natureza humana,
apesar disso continuar ocorrendo em certos casos. Uma música trivial é
produzida para gerar dinheiro e não para produzir algo significativo para os seres
humanos. Uma música produzida para ter um significado emancipatório é algo que
pode ser considerado belo. Mas em nenhum dos dois casos se tornou “sublime”,
pois são produtos humanos, históricos e sociais. Não há motivo para considerá-la
superior à outras atividades humanas e ela carrega em si tanto a grandeza quanto
a pequeneza de todos os produtos humanos. A arte no capitalismo se torna um
produto da especialização e da divisão social do trabalho. Emerge, na sociedade
capitalista, a esfera artística e a produção artística deixa de ser uma das
diversas atividades dos seres humanos e passa a ser atributo de determinados
indivíduos, os chamados “artistas”, e estes, por sua vez, tendem a supervalorar
sua atividade (assim como os cientistas fazem com a ciência, os matemáticos com
a matemática, os juristas com o direito, etc.). É daí que vem a ideia da arte
ser sublime, supervalorando uma atividade humana que foi concentrada em
especialistas e assim surge os discursos e ideologias que lhe atribuem uma “superioridade”.
Numa sociedade autogerida, pós-capitalista, a arte será uma atividade humana
generalizada e não domínio de especialistas e assim será uma forma de manifestação
da natureza humana. Nesse sentido, ela não é sublime e nem autônoma. Ela pode
se autonomizar no capitalismo com o processo de expansão da divisão social do
trabalho, mas numa sociedade autogerida, seria reinserida no conjunto de
atividades humanas e perderia essa ilusão de autonomia absoluta. Sendo assim,
ela não é nem sublime, nem autônoma.
José Braga: A arte não é uma necessidade humana?
Nildo Viana: Ela é uma das formas de manifestação de certas
necessidades humanas, mais exatamente a práxis. Ela, em si, não é uma necessidade
humana. É um meio, assim como outros, de manifestar determinadas necessidades.
José Braga: Para que serve a arte?
Nildo Viana: A arte deveria servir para manifestar a
práxis, o desenvolvimento das potencialidades humanas, a criatividade. Isso é o
que deveria ser. Na sociedade capitalista, ela passa a servir para outras
coisas: gerar dinheiro e lucro, competição social, etc. Isso depende de quem
está usando a arte. Um artista pode produzir arte para seu prazer pessoal, para
obter fama e/ou dinheiro, etc. Um capitalista pode distribuir arte para obter
lucro. Logo, a arte pode servir para várias coisas, de acordo com os interesses
e pessoas relacionadas com ela.Uma parte da produção artística serve para
manifestar a práxis, que é a arte engajada, expressão da luta pela libertação humana.
José Braga: A arte deve contribuir com a emancipação
humana, segundo sua paráfrase de Marx no livro A Esfera Artística. Mas o artista, quando produz sua obra e manifesta
sua essência, não está fazendo isso? Neste sentido, não basta produzir arte? Ou
isto seria fetichismo da arte?
Nildo Viana: O artista quando produz uma obra de arte,
pode ou não manifestar um elemento da essência humana. Quando um artista produz
arte por gostar e desenvolver sua criatividade e potencialidades, está manifestando
um elemento da essência humana. Mas ele pode fazer produzindo algo que é antagônico
à própria natureza humana no conteúdo e mensagem de sua obra. Por exemplo, um
pintor que é apaixonado pela pintura e o faz por prazer e sem ter intenção de
comercializar seu quadro, está manifestando a práxis. Contudo, se ele simplesmente
pintou uma paisagem para expressar nela a beleza da vida, está fazendo apologia
de uma sociedade que destrói a vida de milhões e impede a quase totalidade da população
de poder realizar esse tipo de manifestação. Logo, não basta fazer arte por
gostar e para desenvolver suas potencialidades para que ela sirva para a luta
pela emancipação humana, é necessário partir da perspectiva do proletariado e
que o conteúdo não seja uma apologia dessa sociedade. Esse não é um problema da
arte e sim da sociedade na qual a arte é produzida, ou seja, é um problema do
capitalismo. Brecht expressou isso bem ao colocar que a sociedade capitalista
torna a pintura de uma árvore um crime. Por qual motivo, no capitalismo, pintar
uma árvore é um crime? Por ter um significado determinado nessa sociedade, o
descompromisso com a luta pela transformação radical da sociedade e, por isso,
é um crime. Um ser humano não pode se dar ao luxo de pintar uma árvore deixando
de lado os problemas humanos postos por essa sociedade e nem pensar que basta
produzir arte, pois é preciso produzir arte engajada. Claro que isso não quer
dizer que tudo o que um artista faz deve ser, imediatamente engajado. Um músico,
por exemplo, pode fazer músicas com mensagens críticas e fazer algumas sem teor
crítico, pois é a totalidade da sua produção musical que importa para avaliar
seu engajamento. Produzir somente músicas sentimentalistas é condenável, pois
produzir uma música para expressar sentimentos pessoais, ao lado de outras
marcadas por crítica social, não é condenável. Assim, pensar que a arte é um
fim em si mesma é equivocado e se iludir com a ideia da arte pela arte é
fetichismo da arte.
José Braga: Marx, Weber e Bourdieu aparecem no seu
livro sobre esfera artística. Durkheim não aparece, por qual motivo, ele não tem
nada a dizer sobre arte, apesar de ser considerado um clássico da sociologia?
Nildo Viana: O Durkheim não produziu obra significativa
sobre arte, que não era um dos seus temas de análise. Mas o motivo pelo qual
ele não apareceu, bem como inúmeros outros sociólogos que produziram sobre arte
(mesmo não sendo clássicos), é devido aos objetivos do livro. O livro não visava
discutir sociologia da arte e sim uma determinada concepção de arte e focalizando
a esfera artística e os autores mais importantes e significativos para tal
discussão eram Marx, Weber e Bourdieu. Marx abordou a divisão social do
trabalho, Weber trabalhou com a ideia de esferas e Bourdieu com a ideia de
campo, que são elementos mais gerais que contribuem com a compreensão da arte
na sociedade capitalista e além disso fizeram apontamentos sobre arte e
contribuíram diretamente com a discussão sobre esfera artística.
José Braga: Os movimentos artísticos possuem alguma
ligação direta com os movimentos políticos? O expressionismo alemão tinha algo
a ver com as lutas operárias na Alemanha? Haveria uma tendência operária na
"nova objetividade" no cinema alemão? E em outros casos, em outros
países?
Nildo Viana: Alguns movimentos artísticos são esteticistas
e, por conseguinte, são distantes dos movimentos políticos. Outros, no entanto,
possuem proximidade com determinados movimentos ou até mesmo organizações
políticas (partidos, grupos, etc.). O expressionismo
alemão foi um produto da luta de classes na Alemanha e assumiu uma posição de
crítica social e perspectiva do proletariado, de forma mais direta no caso de
determinados coletivos formados no bojo da Revolução Alemã (Grupo de Novembro, Conselho
dos Trabalhadores de Artistas de Berlim, Liga de Artistas Revolucionários, Grupo
Vermelho), embora tivesse outras tendências anteriores. Eu apresentei uma reflexão sobre o expressionismo em geral e
principalmente em sua manifestação cinematográfica no livro A Concepção Materialista da História do
Cinema (Porto Alegre: Asterisco, 2009). A chamada Nova Objetividade
é um movimento que conheço menos e penso que seria necessário uma pesquisa para
o compreender melhor. Alguns colocam de George Grosz como representante desse movimento
(apesar de outros o colocarem como expressionista) e, sendo assim, poderíamos dizer
que ele encarnava a perspectiva do proletariado no interior de tal movimento. No
caso do cinema, o mesmo problema persiste, pois alguns consideram Metrópolis, de Fritz Lang um filme
expressionista e outros afirmam que é representante da Nova Objetividade. No
entanto, não penso que no cinema se possa colocar que existiram filmes partindo
da perspectiva do proletariado. Porém, considero que isso precisa ser
aprofundado e se analisar mais profundamente a relação do expressionismo com a
nova objetividade e inclusive entender se esse último foi realmente um movimento
artístico. Nos demais países e épocas existiram aproximações entre movimentos
artísticos (mais precisamente setores no seu interior) e determinadas
organizações ou concepções políticas, tal como a relação entre Brecht e o
Partido Comunista Alemão ou entre André Breton, representante do surrealismo, e
Trotsky. O chamado “realismo poético” francês se aproximou do movimento operário
(e não de um movimento político específico), bem como o realismo, na Rússia,
estava atrelado ao aparato estatal.
José Braga: No seu texto há uma crítica ao
neo-realismo italiano. Por qual motivo?
Nildo Viana: O neo-realismo italiano é criticado por
causa do realismo vinculado com uma determinada posição política. O filmes
neo-realistas não mostram a utopia, a possibilidade de transformação. Mostram a
miséria, a pobreza, os problemas sociais. Não mostram a luta e a utopia. Por
isso são conformistas e não podem ser interpretados como filmes engajados. Isso
tem a ver com a situação política italiana, do pós-Segunda Guerra Mundial e posição
moderada do Partido Comunista Italiano e as alianças políticas da época,
fazendo com que o bloco progressista se vinculasse com o proletariado de forma
artificial e sob o signo do neo-realismo.
Além
disso, o neorrealismo italiano reproduz o problema da concepção estética realista,
gerada pelo pseudomarxismo e que aponta para uma concepção de arte que não parte
da perspectiva do proletariado.
José Braga: O tropicalismo, tal como coloca em seu
livro O Tropicalismo - A Ambivalência de
um Movimento Artístico (Rio de Janeiro, Corifeu, 2007) é ambivalente, sendo
simultaneamente esteticista e crítico. Desta forma, a análise de um movimento artístico
é bem mais complexa do que a mera tentativa de interpretação de sua produção.
Quais são os elementos que se deve ter em vista para tal análise?
Nildo Viana: Eu coloco nesse livro, no primeiro
capítulo, uma discussão sobre questão de método no caso de análise de músicas. Um
dos elementos é entender que para compreender um movimento artístico é preciso
entender a sua produção cultural. Porém, para entender tal produção cultural é
preciso entender o contexto histórico, a situação dos seus adeptos no interior
da esfera artística ou de sua subesfera específica (no caso do tropicalismo, a
subesfera musical), entre outros aspectos. Em nível mais geral, é necessário
uma base teórico-metodológica (método dialético e teoria do capitalismo, bem
como teorias de fenômenos mais específicos, como as esferas sociais) e um
material informativo para poder realizar a análise e compreensão de determinado
movimento.
José Braga: O Senhor vislumbra algum movimento
artístico revolucionário hoje? Existe algum com o qual o Senhor se identifica?
Ainda existem movimentos artísticos? Caso não, qual é a força desta expressão,
para que serve?
Nildo Viana: Não conheço nenhum movimento artístico
revolucionário na contemporaneidade. As derrotas das lutas operárias e
estudantis do final dos anos 1960 fez emergir o pós-vanguardismo (o equivalente
do pós-estruturalismo nas ciências humanas e filosofia) e isso gerou uma predominância do
subjetivismo e outras ideologias e concepções, como o neoindividualismo (e mais
tarde, o neoliberalismo). O novo regime de acumulação que se instaura nesse
momento, o regime de acumulação integral, torna o pós-vanguardismo hegemônico e
os movimentos artísticos perdem as bases sociais necessárias para sua existência,
pois ao lado desse processo há uma crescente mercantilização das relações
sociais e da arte. Nesse caso, a arte é relativizada, os artistas se tornam
mais individualistas, e movimentos artísticos deixam de surgir e ganhar força.
Por conseguinte, considero que não existem movimentos artíticos hoje, pois eles
são ligados a ideia de vanguardas artísticas, que é marginalizada. Alguns esboços
existem, mas são muito fracos e sem maior força, o que é reforçado com a falta
de projetos alterantivos de sociedade que tenham grande ressonância social,
expressando o que alguns chamaram de “crise da utopia”. No caso de movimentos
artísticos do passado, o expressionismo, o realismo poético francês, parte do
surrealismo, são alguns que eu citaria como mais próximo do meu gosto e
valores. A expressão “movimentos artísticos” tem dupla importância. Como todo
conceito, ele expressa uma realidade mutável e por isso existiram movimentos
artísticos e hoje praticamente não existe. Isso significa que tem um valor
histórico, assim como o conceito de “feudalismo” ou “socialismo utópico”. Contudo,
além do valor histórico, ele tem a capacidade de explicar um fenômeno social
que hoje está ausente, mas que pode retornar e assim volta a ser necessário o
seu uso, não apenas para a análise da história passada e sim para a análise do
presente.
José Braga: A arte pode ser ideológica? Pode trazer
ilusão como no pensamento ideológico, na perspectiva marxista?
Nildo Viana: Eu considero que não é possível a arte ser
ideológica, devido o significado do conceito de ideologia. Ideologia é um
sistema de pensamento ilusório e a arte não expressa pensamentos sistematizados.
Uma pintura, um filme, uma música, pode até repassar ideologemas, fragmentos de
ideologia, mas não uma ideologia em sua totalidade. A arte cumpre uma função conservadora
mais através dos valores que repassa do que as ideias em si. Nesse sentido, eu
chamaria axiologia, uma determinada configuração de valores dominantes. Foi
justamente para entender as obras de arte que desenvolvi uma análise marxista
dos valores. Sobre a questão da ilusão, é preciso entender que a arte não busca
dizer o que é a realidade (essa é a pretensão da ciência, da filosofia, da
teoria, etc.). Mas ela pode repassar elementos ilusórios, ideologemas.
José Braga: Existe algum critério objetivo para
avaliar uma obra de arte? Para me dizer se Lima Barreto é melhor ou pior que
Machado de Assis?
Nildo Viana: Eu discuti essa questão no livro Os Valores na Sociedade Moderna. A avaliação
de uma obra de arte é um processo de valoração. A partir de determinados valores,
temos determinada avaliação. No entanto, os valores não são equivalentes. A distinção
entre axiologia e axionomia expressa justamente essa diferença de valores. A
axiologia expressa os valores dominantes e logo o processo de valoração
derivado é negativo. A axionomia expressa os valores autênticos,
correspondentes à natureza humana e à perspectiva do proletariado, e por isso
fornece as bases para um processo de valoração mais adequado. Porém, a concepção
marxista aponta para o entendimento da obra de arte como uma totalidade e além
dos valores é necessária fundamentação teórica e metodológica nesse processo de
valoração. Uma obra de arte é uma totalidade e o seu conteúdo é o elemento
fundamental, mas o aspecto formal não pode ser descartado. A arte fascista, por
exemplo, é ruim tanto na forma quanto no conteúdo. As músicas triviais também
tendem a ter essa mesma característica. Agora comparar Lima Barreto e Machado
de Assis é algo diferente de avaliar as obras que eles produziram ou obras
específicas de cada um. Sem dúvida, Lima Barreto produziu uma obra axionômica
sem ambiguidade e Machado de Assis produziu obras interessantes, mas sua
perspectiva nem sempre é clara. Entao é possível, numa avaliação preliminar e não
embasada em pequisa (o que pressupõe ter acesso ao conjunto da obra dos dois
literatos comparados, por exemplo) apontar qual seria melhor, mas é algo que
precisa ser fundamentado para perder o seu caráter preambular.
José Braga: O
Senhor já tentou fazer alguma obra de arte? Se sim, qual?
Nildo Viana: Sim. Eu já escrevi contos e poesias e composição de músicas. A maioria dos
contos estão no livro O Doutor e outros contos incorretos. Em matéria de músicas,
foram várias e quase todas em coautoria com Edmilson Marques, tal como Marionete Consciente, O Bom Burguês, Meu
Amigo João, entre outras.
José Braga: Qual
é a diferença entre fazer arte e pesquisar arte?
Nildo Viana: A diferença é que são formas de produção intelectual
distintas. Fazer uma letra de música, escrever um conto, podem ser extremamente
prazeroso, bem como escrever um texto teórico no qual se expõe uma descoberta.
No entanto, são processos distintos. Muitas vezes a poesia, o conto, a ideia de
uma história em quadrinhos vai surgindo e adquirindo forma, enquanto que o trabalho
teórico pressupõe pesquisa e é mais longo. Pesquisa arte é bom quando quem
pesquisa gosta de arte. Fazer arte é algo que todos os seres humanos deveriam
concretizar, desde que não seja sob forma alienada, pois é práxis. E a práxis pode
ser ponto de partida para a uma práxis revolucionária, ao perceber que essa
sociedade é um obstáculo para sua realização.
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